Lucas Silveira é instrutor-chefe da Academia Brasileira de Armas.
Treinamento baseado em cenários, treinamento baseado na realidade, Reality Based Training (RBT) são alguns dos nomes empregados para definir sessões de treinamento nas quais os instruendos são colocados em um ambiente controlado, sem armas letais, que objetivam simular uma ocorrência que se considera provável no seu dia-a-dia relacionada ao uso da força.
Demorou algum tempo, mas instrutores e instruendos perceberam: o que você faz dentro do estande de tiro não necessariamente reflete o que você faz – ou vai fazer de fato – quando enfrentar uma ameaça a sua incolumidade física ou em qualquer situação que eleve seus níveis de estresse.
Em princípio, tudo certo. Ocorre que da mesma maneira como o RBT pode ajudar a capacitar atiradores a tomarem boas decisões em momentos de estresse, sessões feitas com base no senso comum, sem o devido respaldo científico, podem gerar o efeito exatamente inverso, ou seja, comprometer o desempenho dos atiradores quando eles mais precisam.
Destaca-se, entre os estudiosos do tema, Ken Murray, da Reality Based Training Association. Murray foi um dos criadores da SIMUNITION, uma marca de munições que fabrica, entre outras coisas, munições com pontas de tinta para RBT e force on force. A doutrina de Murray influenciou os maiores instrutores e instituições do mundo, dentre as quais vale citar a Natural Tactical Systems e o 360 Close Quarters Defense (Antigo Center Axis Relock System).
Evidentemente não é possível esmiuçar todos os aspectos do RBT neste texto, porém convém destacar os principais erros cometidos em sessões de treinamento baseado em cenário:
1. Estabelecer cenários irreais ou muito pouco prováveis.
2. Colocar metas inatingíveis.
3. Fazer com que o instruendo seja frequentemente alvejado nos cenários.
4. Não estabelecer uma boa relação de cenários que necessitam e que não necessitam de uso de força letal.
5. Não treinar os atores adequadamente.
6. Não avaliar o cenário com o objetivo de crescimento da equipe.
7. Não fornecer feedbacks suficientes ou fornecer feedbacks pouco precisos.
8. Negligenciar pressupostos de segurança.
A avaliação do desempenho do instruendo também deve ser considerada com cautela. Avaliações binárias como “sim” ou “não”, não transmitem informação suficiente para quem deseja se aperfeiçoar.
Sobre o tema, recomendamos conhecer o método STAR, desenvolvido pela Homeland Security dos EUA, estudado no Grupo de Estudos Papyrus em 01 de Abril de 2020. Clique aqui para ver.
Nosso trabalho para os próximos textos desta série é trazer à baila o estado da arte do RBT, vamos conhecer os principais autores e as mais novas publicações científicas que podem, de fato, nortear a organização de sessões de treinamento que desenvolvam habilidades e salvem vidas.
Comment on “Treinamento baseado na realidade (Cenários) – Parte 01”