Lucas Silveira é instrutor-chefe da Academia Brasileira de Armas.
Entre as perguntas mais feitas por todos os meios disponíveis de contato da Academia Brasileira de Armas e do Instituto DEFESA, certamente estão aquelas em torno de qual arma escolher.
Já escrevi alguns textos, fiz alguns vídeos e até gravei vários áudios para tentar minimizar a dor de quem procura desesperadamente decidir entre as opções do mercado, mas aqui no Blog da Academia Brasileira de Armas, ainda não existia um conteúdo nesse sentido.
Portanto, chegou a hora! Vamos às respostas desta reiterada e inquietante questão. Lucas, qual arma você indica? O que você acha da Taurus G2C?
A resposta é sempre a mesma: DEPENDE. “Mas caramba, Lucas, pare de se esquivar e responda de uma vez!”.
Vamos desenrolar esse assunto. Para isso eu preciso que você responda algumas questões, a saber:
1. Para quê você quer a arma?
Se o seu objetivo é tiro esportivo, você vai precisar considerar as características da modalidade. Um atirador participando do Campeonato Regional CBC Taurus não utiliza o mesmo equipamento que um atleta de tiro olímpico que, por sua vez, não tem nenhuma relação com uma arma de combate.
Se a arma em questão vai ser portada diuturnamente, certamente o volume e o peso são relevantes. Carregar uma full size de aço por aí o dia todo não é confortável.
Se a arma tem o objetivo de proteger um espaço grande, talvez seja hora de considerar uma arma longa.
2. Você vai conseguir treinar com a sua arma? Como é a logística de munições?
Imagine que você seja um apaixonado, quem sabe, pela Glock 31. Você optou por ela depois de responder à primeira questão. Só agora tem um novo óbice: A G31 calça munições 357 Sig, que não são vendidas no Brasil. Você precisa importar a munição, que chega cara e, obviamente, bate aquela dó de gastar. Portanto, você não vai treinar.
Desculpe acabar com o seu sonho assim, de forma tão indelicada, mas onde se vende arma não se vende coragem. A arma por si só é apenas um objetivo e ter uma arma sem treinar é o mesmo que comprar um computador sem um sistema operacional instalado. Hardware sem software.
Portanto, considere uma arma que facilite a sua logística, tanto no que diz respeito à disponibilidade quando a preço.
Por enquanto, no Brasil, é prudente deixar a G31 só pra coleção.
3. Quanto você pode gastar?
Também não adianta se endividar todo para comprar a arma dos seus sonhos. Você assistiu a todos os reviews, pensa nela o dia todo e resolve parcelar em 48x, comprometendo todo o seu cartão de crédito.
Ok, e agora? Como é que você compra munição? Como você vai pagar pelo treinamento?
Não dê passo maior que a perna, jovem Padawan. Comece do começo e compre a arma que couber – de verdade – no seu orçamento.
4. Qual é o seu tamanho?
Não tem milagre. Se você pesa 45kg, você não vai conseguir atirar direito com uma full size. Recebo instruendos e, mais frequentemente, instruendas aqui na Academia Brasileira de Armas cuja morfologia impede a execução adequada do fundamento postura em uma arma grande. Em Português: as mãos são pequenas demais para o tamanho da arma.
O recíproco também é verdadeiro. Ocasionalmente aparecem um sujeitos com mãos tão grandes que precisam comprometer sua empunhadura para que o polegar não passe a frente do cano, por exemplo.
Portanto, experimente antes de comprar. A arma é um objeto pessoal, ninguém pode escolher por você.
Para resumir: se você veio aqui procurando um guia definitivo de qual arma comprar, perdoe desapontá-lo. Isso não existe e se você aceita meu conselho, tome cuidado com quem quiser te empurrar algum modelo específico de arma. Essa escolha é sua!
É claro que nesse processo de escolha, dúvidas podem surgir. Pesquise informações técnicas – e não subjetivas, ou de opinião – sobre esses produtos. Procure experimentar manusear essas armas e ter as suas próprias sensações em relação a elas.
E por fim: não se preocupe se você errar. Em toda a minha experiência como instrutor de tiro, nunca vi alguém que comprou apenas uma arma. Se você errar na primeira, na próxima você acerta.
Bons tiros a todos!