INTRODUÇÃO
O que é o tiro de combate? Desde por volta de 2010, decidi concentrar meus estudos e treinamentos no tiro de combate com o objetivo de compreender melhor o que está disponível no mercado para poder ensinar às pessoas que precisam se defender a si e às suas famílias.
Treze anos se passaram, e ainda é muito comum ver pessoas cometendo os mesmos erros quando pretendem aprofundar-se no assunto, desenvolver padrões motores e aprimorar suas habilidades de combate.
Obviamente, uma das razões para isso acontecer é a falta de uma base sólida. Os estudantes não têm treinamento organizado e acabam ingressando no mundo das armas de forma informal, como aprender com um pai, ou se inscrevendo em um curso aleatório, cuja origem e informações são desconhecidas. Existem também aqueles que têm seu primeiro contato com armas de fogo ao se alistar nas forças armadas ou assumir um cargo na segurança pública, onde, como todos sabemos, existem muitas limitações de treinamento de várias naturezas. Por fim, vale a pena mencionar indivíduos que visitam um estande de tiro, compram uma arma de fogo e não prestam muita atenção ao processo de treinamento.
Portanto, acredito ser pertinente começar a esclarecer este assunto essencial desde seus conceitos iniciais, o que pode, ao longo do tempo, ajudar os alunos e instrutores a tomar decisões mais bem fundamentadas ao participar ou desenvolver cursos, aulas e programas de treinamento.
2. TIPOS DE TIRO
As armas de fogo são ferramentas fantásticas que moldaram e continuam moldando a história, a cultura, a política e até a arte em todo o mundo. Existem diversas razões pelas quais homens e mulheres adquirem e usam armas de fogo. É importante compreendê-las para que seja possível segmentar e definir o escopo deste texto, ou seja, o tiro de combate.
2.1. Tiro de Caça
A caça tem uma ligação íntima com as raízes da humanidade e sua interação com a natureza. Antropologistas consideram a caça como um elemento fundamental no desenvolvimento da linguagem, na criação de novas ferramentas e no crescimento do cérebro humano, quando comparado a outros primatas.
Hoje, em todo o mundo, existem cidadãos que dependem da caça para garantir sua nutrição, fonte de renda e até entretenimento.
“A ideia de que a caça foi uma importante pressão seletiva durante a evolução humana foi amplamente aceita (Ardrey, 1976; Hewes, 1973; Krantz, 1968). A visão tradicional sustenta que, na época do H. erectus, a caça era realizada por grupos de homens portadores de ferramentas, operando longe da base principal, onde estavam as mulheres e crianças (Hewes, 1973). Embora Hewes não afirme que a caça seja o principal impulsionador da evolução cerebral, ele sugere que a caça pode ter proporcionado o ímpeto para o surgimento da linguagem: ‘A fabricação de ferramentas e a manutenção do fogo podem não ter dependido absolutamente da linguagem, mas a caça eficaz de mamíferos grandes, com o conhecimento expandido do terreno que isso implica, muito bem poderia ter sido impossível para um caçador primata sem uma linguagem rudimentar’ (Hewes, 1973:7).
Krantz (1968) identificou a ‘caça de persistência’ como o principal impulsionador da evolução cerebral entre Australopithecus e H. erectus. Na caça de persistência, ‘a presa é finalmente capturada principalmente porque o caçador foi capaz de persistir na perseguição por um ou dois dias inteiros’ (Krantz, 1968:450). Esse método de caça exige que os caçadores sejam capazes de ‘manter a tarefa constantemente em mente por vários dias e antecipar os resultados a longo prazo’ (ibid). De acordo com Krantz, o tamanho do cérebro está positivamente correlacionado com a melhoria da memória; assim, caçadores com cérebros maiores adquiririam mais alimentos e, portanto, seriam favorecidos pela seleção natural.” (FALK, 1980)
“Assim, uma mudança na dieta em direção a alimentos de alta qualidade que poderiam ser compartilhados eficazmente com outros, presumivelmente incluindo amigas grávidas ou lactantes e suas crias, levaria à melhoria da compensação da produção em relação ao tamanho do cérebro.” (Isler & Van Schaik, 2014)
2.2. Tiro Esportivo
Nas Olimpíadas de 2024, haverá 7 disciplinas de tiro diferentes, com 14 eventos distintos. Existem pelo menos outros 70 tipos diferentes de esportes que utilizam armas de fogo, com destaque para Skeet e IPSC.
O tiro esportivo pode promover a inclusão, permitindo que jovens e idosos, homens e mulheres, e até pessoas com deficiência, compitam na mesma categoria. É uma excelente maneira de treinar a concentração, praticar o mindfulness e oferece inúmeros benefícios sociais e para a saúde.
Seu objetivo é a competição, não o combate, e seus alvos são papéis, metais e pratos.
2.3. Tiro Recreativo
É muito provável que a maioria dos atiradores no mundo não tenha nenhum compromisso significativo. São pessoas que usam o tiro para entretenimento e socialização. O tiro recreativo pode reduzir o estresse da vida cotidiana, criar amizades e até facilitar negócios.
Seu objetivo é puramente o entretenimento, sem outras pretensões.
2.4. Tiro de Recriação Histórica
Eu sou um grande fã de armas de fogo históricas. Atirar com armas de pólvora negra, além de ser emocionante e divertido, ajuda a entender detalhes de conflitos antigos, permitindo que historiadores desvendem melhor o passado.
Esta seção também pode incluir a coleção de armas de fogo. Eu mesmo tenho armas antigas que nunca atirei e nunca atirarei, em respeito ao seu valor histórico.
2.5. Tiro Cultural
O tiro está intrinsecamente ligado a muitas culturas. No sul do Brasil, por exemplo, o município de Jaraguá do Sul homenageia seus imigrantes alemães com a Schützenfest (Festa do Tiro). Atiradores e não atiradores vêm de longe para participar do evento que é realizado no Brasil desde 1989 e na Alemanha desde 1427.
2.6. Tiro Turístico
Alguns lugares no mundo são visitados especialmente por causa de sua tradição no tiro. A ABA Intl leva brasileiros para os Estados Unidos, especialmente para seus cursos, mas também pessoas que desejam aproveitar o acesso a determinados ambientes e equipamentos que são encontrados exclusivamente nos EUA.
Na sede mais antiga da ABA, em Quatro Barras, nosso estande de tiro fazia parte do ciclo de turismo da região, recebendo turistas e visitantes curiosos de todos os tipos.
2.7. Tiro de Combate
O tiro de combate é o ato de disparar projetado para ser realizado contra inimigos com o objetivo de matá-los. Suas técnicas e objetivos são distintos de outros ramos, uma vez que não se destina ao entretenimento, competição ou qualquer tipo de análise histórica. Pode ser subdividido em áreas de aplicação, da seguinte forma:
2.7.1. Tiro de Combate Policial
As atividades policiais têm características únicas em comparação com todas as outras disciplinas de tiro, justificando a necessidade de sua própria doutrina e a separação do tiro de combate policial dos demais ramos do tiro.
De uma maneira puramente teórica e análise superficial, sem pretender esgotar o tópico e ciente das diferenças no mundo real, o tiro de combate policial é uma consequência indesejada do trabalho policial, que visa preservar a vida e defender os cidadãos. O alvo é o criminoso.
2.7.2. Tiro de Combate Militar
O tiro de combate militar é focado em operações de guerra. As características técnicas podem ser semelhantes a outros tipos de tiro, mas são impostas pelos teatros de operações. Seu objetivo é vencer a guerra, sem conexão com as leis locais.
Da mesma forma, de maneira rasa e puramente didática, o inimigo nesse caso é principalmente o pessoal militar das forças inimigas.
2.7.3. Tiro de Combate na Segurança Privada
A segurança privada em si tem várias subdivisões que estão além do escopo deste texto. Ela varia desde a segurança de edifícios bancários até a proteção de VIPs e até operações normalmente adequadas para Empresas Militares Privadas (PMCs).
Cada ramo da segurança privada tem características que o diferenciam dos outros, tanto em termos de objetivos quanto de padrões técnicos.
2.7.4. Tiro de Combate Civil
O tiro de combate civil é o tipo de tiro realizado por cidadãos para se defenderem contra vários inimigos. Esses cidadãos não têm um vínculo profissional que legalmente os obrigue a se envolver em combate, mas são compelidos a fazê-lo por várias razões. Esta categoria inclui pais que defendem seus filhos, proprietários de empresas que protegem suas propriedades, mulheres que se defendem contra agressões ou homens que respondem a um roubo ou tirania.
Aqui reside a verdadeira garantia de todos os direitos e liberdades de uma sociedade. Este segmento de tiro se refere a homens e mulheres que sustentam uma nação e compreendem a necessidade de ter as habilidades para enfrentar ameaças da esfera pública ou privada. Infelizmente, como vimos anteriormente, muitas vezes é mal compreendido, treinado muito abaixo do nível necessário e sem foco claro.
Um cidadão armado e treinado é a única segurança que uma sociedade tem contra a tirania. É o mais alto exercício de cidadania, um fator decisivo na segurança das ruas e um freio à corrupção.
Não é por acaso que políticos em ascensão, criminosos comuns e apoiadores de tiranos de todo tipo temem e atacam esse tipo de tiro. Eles sabem que o mal que pretendem causar é impossível enquanto esse segmento prosperar.
3. CONCEITO
O tiro de combate é, portanto, um tipo de tiro focado em matar inimigos, que podem ser criminosos comuns, militares de uma força inimiga ou tiranos. Não deve ser confundido com caça, tiro de entretenimento ou tiro esportivo.
Suas técnicas são únicas, e seus objetivos podem variar dependendo de quem o utiliza, mas o resultado de um tiro de combate eficaz é a destruição do inimigo.
Pode ser praticado por profissionais na esfera pública ou privada, bem como por homens e mulheres individuais que precisam defender o que lhes é caro.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste texto, examinamos os prolegômenos do tiro de combate, listando e categorizando os tipos de tiro, enquanto definimos o que é e o que não é o tiro voltado para o combate.
O texto é introdutório e tem como objetivo fornecer uma base conceitual inicial, incentivando pesquisadores e educadores a abordar o assunto com a precisão técnica necessária e clareza semântica.
Para futuras publicações, é recomendável desenvolver ainda mais o tópico em suas subdivisões.
5. REFERÊNCIAS
Falk, D. (1980). Hominid brain evolution: The approach from paleoneurology. American Journal of Physical Anthropology, 23(S1), 93–107. doi:10.1002/ajpa.1330230507
Isler, K., & Van Schaik, C. P. (2014). How humans evolved large brains: Comparative evidence. Evolutionary Anthropology: Issues, News, and Reviews, 23(2), 65–75. doi:10.1002/evan.21403
https://en.wikipedia.org/wiki/Shooting_sports
https://www.alle-schuetzenvereine.de/schuetzenfeste/
https://de.wikipedia.org/wiki/Sch%C3%BCtzenfest
https://www.colonialwilliamsburg.org/learn/living-history/musket-range-celebrated-5th-anniversary/
https://leb.fbi.gov/articles/featured-articles/effective-firearms-training-one-agencys-approach-
https://www.army.mil/article/186787/marksmanship_101_teaching_soldiers_to_shoot_at_fort_leonard_wood
https://www.italiansafari.com/gallery/
https://tourismteacher.com/types-of-hunting-hunting-tourism/