Escrito por Lucas Silveira
Fundada em 28 de novembro de 1660, a Royal Society of London for Improving Natural Knowledge é uma instituição que tem como objetivo a produção de conhecimento científico. Foram membros da sociedade personagens que mudaram o rumo da História, como Robert Boyle, reconhecido como primeiro químico moderno, Henry Ford, Isaac Newton, Charles Darwin e Albert Einstein, entre centenas de outros nomes.
A mais notória entidade científica da História trouxe consigo o lema Nullius in verba, latim para “nas palavras de ninguém”.
Trata-se de um desafio a autoridade. Não no sentido pejorativo da expressão, em busca da bagunça, como uma criança cheio de “porquês”, mas sim como uma forma cética e incessante de trilhar o caminho para a verdade.
Quando se diz “nas palavras de ninguém”, procura-se deixar claro que o simples fato de alguém afirmar alguma coisa, não importa quão respeitado seja o autor, isso não é suficiente para transformar aquilo em verdade, muito menos em verdade científica. Este fato deve ser testado, comprovado, replicado, reproduzido, repetido, até que não se sobre mais dúvidas da sua veracidade ou, quem sabe, que se comprove a sua falsidade.
Nas ciências clássicas, a metodologia científica já é razoavelmente bem empregada, servindo como fundamento para mudanças de paradigmas, para a evolução do estado da arte. Foi isso que nos permitiu evoluir tecnologicamente desde a idade média até o pouso em marte, vacinas, informática, meios de comunicação.
Einsten fez afirmações na primeira metade do século XX que ainda são testadas antes de se assumi-las como fato, mesmo tendo sido proferidas pelo pai da física quântica, da Teoria da Relatividade e da E=mc².
E para o tiro? E para a prática da defesa? E para as ações táticas? Será que as técnicas que chegam aos usuários finais foram testadas? Ou será que elas apenas são repetidas por serem oriundas de uma “autoridade” respeitada no meio?
Há algum tempo gravei um vídeo para o canal do Instituto DEFESA no YouTUBE falando sobre a forma mais inteligente de se utilizar uma Kerambit – aquele modelo de faca que virou moda de uns tempos pra cá. Recebi dezenas de críticas cuja maior argumentação era: “Mas o fulano faz assim….”
Ora, é este tipo de comportamento que “Nullius in verba” se propõe a combater. A técnica que eu apresento no vídeo pode ser testada a qualquer momento, por qualquer pessoa, e vai ter resultado superior à técnica do “fulano”, em igualdade de condições. Não importa o que eu disse ou o que o fulano disse. O que importa é o que pode ser mensurado, repetido, comprovado, ainda que você goste do Lucas Silveira ou do fulano do outro vídeo.
Trouxemos à Academia Brasileira de Armas este mesmo meio de pensar. Seria muito fácil replicarmos as exatas técnicas de um ou de outro expoente da área nas nossas instruções. Todos aqueles “antenados” em Instagrams e YouTubes rapidamente assumiriam o trabalho da ABA como “correto”, já que estaria alinhado com o que se assume como verdade.
Contudo, isso não basta. Preferimos ouvir várias fontes e, principalmente, testar e comparar todas as técnicas que são apresentadas. Muitos destes estudos serão publicados aqui no nosso site, com o objetivo de convidar toda a comunidade a fazer o mesmo: duvidar, testar, comprovar, inovar.
Se você não quer cair no senso comum e ser apenas mais um dentre tantos outros, desafie a autoridade. Não acredite em ninguém, nem mesmo neste que escreve.
Nullius in verba.